segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Libertação na Via -crucis




Este relato aconteceu na Fazenda do Senhor Jesus de Viamão, RS. Bira tinha 17 anos, era dependente de cocaínas e inalantes. Certo dia ele falou comigo, pedindo permissão pra fazer a via sacra, de joelhos. Na oportunidade eu neguei para não escandalizar os outros internos.
Ocorre que pouco tempo depois fui a Fátima. Chamou-me atenção aqueles peregrinos fazendo um longo trajeto de joelhos dirigiam-se até a capela das aparições local de destaque na cova da Iria.
Na volta dessa viagem falei com Bira. Ele insistiu que deveria fazer aquele sacrifício , pra ser curado e liberto. Então eu permiti, nas seguintes circunstâncias: deveria ser a noite, depois que todos fossem dormir, e como proteção usasse joelheiras.
Marcamos para a quinta-feira santa.
Chegado o dia, quando tocou o segundo apito às 22h, um alerta convencionado pro silêncio, Bira saiu do sacrario e começou a subir o morro da via-sacra . Trata-se de um percurso construído nas terras da fazenda, morro acima, construído para a meditação dos internos. No alto, a cruz.
Naquele dia eu estava na fazenda, pois o coordenador da casa , um dos monitores de plantão, estava doente. Estávamos no alojamento dos monitores em 4 pessoas enquanto Bira subia o morro em sua penitencia. Ele já estava no percurso há uns 10 minutos, e pedi ao Nivaldo, um dos monitores, o paulista, que o seguisse a uns 50 metros atrás, sem que fosse percebido. Momentos depois ouvimos um barulho assustador. Um grito terrível, que encheu a todos de medo. Saímos do quatro, corremos até o paulista, perguntando o que seria o grito. Ele surpreso,respondeu que não tinha ouvido nada.
Bem, já que estávamos ali, decidimos acompanhar o Bira a distancia no caminho da via crucis. Na metade do caminho, soprou um vento gelado, assustador, eu ainda comentei, que parecia que espíritos impuros saiam dele...e seguiram-se várias rajadas que moviam as árvores.

Mas havia outro fenômeno estranho. Do alto do morro, percebemos um silencio incomum, olhamos abaixo, os cães das fazendas em volta estavam em silencio. Todos os patos e gansos estavam no lago mansamente, nadando no escuro, aquela hora da noite, num silêncio indescritível, enquanto comentávamos, Bira deu um grande grito. Ele estava aos pés da cruz, no alto do morro. Tio Elio, Nossa Senhora veio ouvir meu pedido de perdão! Instantaneamente fomos todos jogados ao chão de joelhos...Vimos um horizonte luminoso, cores lindas, uma árvore, ao fundo do calvário estava envolta numa luz, e ele gritava :Nossa Senhora!
Bira estava pedindo perdão por oito execuções que tinha feito. Ele era o mais novo de uma quadrilha, e era o encarregado de dar o disparo final nas vitimas. O ultimo caminhoneiro que ele matou era um conhecido de sua família, da cidade de Cachoeira do Sul.
Nessa mesma noite, minha filha orando em casa, sentiu que eu estava em perigo, e Nossa Senhora estava pedindo que orasse. E começou a rezar o terço. Ela viu uma escuridão e via demônios saindo na direção do mato, na escuridão. Nossa senhora aparecia como uma estrela, um feixe de luz e iluminava todo lugar.
Depois dessa experiência na via sacra, Bira concluiu o tratamento e manifestou a intenção de tornar-se um monge católico.
Em minhas orações, Nossa Senhora me pediu pra construir naquele local um santuário e prometeu que todo interno que lá se ajoelhasse se aproximando do calvário de Jesus, ela intercederia.
Por razões diversas o santuário não chegou a ser construído. Eu fui trabalhar em outra comunidade terapêutica, a fazenda da Imaculada Conceição em Gravataí, onde ajudei a construir um pequeno santuário, dedicado à Nossa Senhora. Coincidência ou não, no dia da inauguração percebi que fazia exatos sete anos do ocorrido no morro e do pedido que Nossa Senhora me havia feito de construir um santuário.

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